sábado, 10 de agosto de 2013

Utilização irregular de herbicidas nos pomares de laranja de Santana do Mundaú - AL

 Por: Eng. Agrº José Thales Pantaleão Ferreira e Eng. Amb. Elvis Pantaleão Ferreira
         
Figura 1. Laranja em Santana do Mundaú-AL
A citricultura de Santana do Mundaú – AL pouco utilizava herbicidas nos tratos culturais, contudo com a crescente valorização da laranja lima, abertura de novos mercados, escassez de mão de obra, associada também a elevação dos custos para os tratos culturais, vários produtores tem optado por realizar o controle químico das ervas daninhas.
No entanto, a venda de herbicidas ou qualquer outro agroquímico, só pode ser feita ao agricultor com o uso de receituário emitido por Eng. Agrônomo ou Florestal, devidamente credenciado no CREA. No receituário estará escrito todas as recomendações de uso, como: quantidade a ser aplicada, modo de aplicação, horário adequado à aplicação, equipamento a ser utilizado, equipamento de proteção ao aplicador, descarte correto da embalagem, intervalo de segurança para colheita, período entre aplicações, entre outros.
Cabe ressaltar que os técnicos agrícolas e tecnólogos da área da agropecuária e florestas podem assumir a responsabilidade técnica de aplicação, desde que o façam sob a supervisão de um engenheiro agrônomo ou florestal (BRASIL, 1990).
            Todavia, a falta de fiscalização em Santana do Mundaú e região tem levado à venda ilegal de agroquímicos, que muitas vezes são utilizados de forma irregular afetando a saúde do trabalhador e comprometendo o meio ambiente, potencializando a possibilidade de contaminação dos recursos hídricos, dos alimentos e dos organismos.
Para reduzir ao máximo a possibilidade de contaminação do aplicador com herbicida, este deve utilizar equipamento de proteção individual (EPI), contendo: óculos, botas, luvas, boné árabe, máscara,  avental costal, jaleco e calça impermeabilizada. Contudo, infelizmente os aplicadores não vêm utilizando esta proteção em Santana do Mundaú – AL, colocando em risco a vida e o bem estar de vários trabalhadores.
            Os herbicidas quando aplicados sem o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) podem ser absorvidos pelo corpo humano pelas vias (oral, dérmica, respiratória, ocular e anal através do escorrimento da calda pelas costas do aplicador) e uma vez no organismo humano, poderão causar quadros de intoxicação podendo ser caracterizados por náusea, vômito, danos ao sistema imunológico e nervoso, dificuldade respiratória, convulsões, coma e morte (ANDEF, 2001).
Quando há exposição a agrotóxicos combinados (misturados) situação comum no trabalho agrícola, os efeitos e danos a saúde humana podem ser potencializados podendo causar alterações imunológicas, genéticas, mal formações congênitas, câncer, efeitos deletérios sobre os sistemas nervoso, tratogastrintestinal, hepático, reprodutivo, além de alterações comportamentais, entre outros.
Em Santana do Mundaú - AL temos vários pomares de laranja lima ao redor da cidade, devendo a citricultor e o técnico responsável orientar que aplicação não seja realizada próximo as residências, pois o vento  pode acabar levando o produto químico para as residências, podendo contaminar as pessoas e alimentos, o que pode ser caracterizado uma conduta culposa, (sem intenção de produzir o resultado), porém, previsível, que podia ser evitado.
Os principais herbicidas utilizados no controle das ervas daninhas em Santana do Mundaú e região são Roundup (GLIFOSATO) e Tordon (PICLORAN). O Roundup é uma herbicida não seletivo de ação sistêmica, de classe toxicológica III (mediamente tóxico), periculosidade ao meio ambiente classe III (perigoso ao meio ambiente) e intervalo de segurança de 30 dias para o cultivo de citrus (Andrei, 2009).
Segundo Andrei (2009), o tordon (PICLORAN) é um herbicida sistêmico de ação seletiva, com classe toxicológica I (altamente tóxico), sendo considerado tóxico para fauna silvestre, seu intervalo de segurança é de 90 dias para a cultura do arroz. O tordon é um herbicida seletivo atuando somente nas plantas de folha larga (dicotiledôneas), sendo muito utilizado nas pastagens para controle da erva daninha malicia, entre outras.
AZEVEDO (2003) destaca que só é permitido utilizar herbicidas, registrados para citros, ou conforme legislação vigente; dando preferência aos pós-emergentes aplicados, no máximo, duas vezes ao ano na faixa de projeção da copa das plantas, em função do período crítico de interferência das plantas daninhas determinado para o ambiente trabalhado, adverte ainda que, os agrotóxicos podem ser persistentes, móveis e tóxicos no solo, na água e no ar, tendendo a acumular-se no solo e na biota.
Os herbicidas ao serem aplicados no controle das ervas daninhas podem alcançar o lençol freático e contaminar a água, podendo intoxicar os organismos. Em Santana do Mundaú a citricultura está implantada em sua maioria em solos classificados como Argissolos, esta classe de solo possui uma acumulação de argila em subsuperfície, especificamente no horizonte Bt, este acúmulo reduz a infiltração de água e desfavorece a passagem do herbicida para o lençol freático, entretanto o uso indiscriminado, excedendo a quantidade recomendada pelo Eng. Agrônomo ou Eng. Florestal aumenta o potencial de contaminação dos recursos hídricos. Alguns trabalhos mostram que o tempo de degradação do Roundup (GLIFOSATO) é menor nos Argissolos em comparação com os Latossolos (Araújo et al., 2003).
            A condição topográfica de Santana do Mundaú, conforme ilustrada na figura 1 a seguir potencializa o perigo de contaminação dos recursos hídricos, neste caso, principalmente dos riachos e rios, pois caso ocorra uma chuva forte próximo ao período que foi aplicado o herbicida, este poderá ser transportado em grande quantidade para os riacho e rios, contaminando peixes e todos os organismos que estiverem utilizando este recurso.

Figura 2. Mapa de altitude de Santana do Mundaú, gerado com dados SRTM com auxílio do Software ArcGis. Fonte: José Thales Pantaleão Ferreira (2012).
            Para reduzir este perigo de contaminação, as empresas têm buscado fabricar herbicidas com tempo de meia vida curto (tempo médio necessário para que metade da quantidade aplicada do produto seja degradada), a exemplo deste, temos o próprio Roundup que possui tempo de meia vida de 32 dias (Monsanto, 2012). A molécula química deste herbicida pode ser utilizada nas vias metabólicas dos microrganismos, promovendo sua degradação.
            Diante do exposto, verifica-se que a citricultura em Santana do Mundaú – AL encontra-se com crescente utilização de herbicidas no controle químico das ervas daninhas, contudo observa-se que a utilização, em muitos casos não vem seguindo orientações técnicas de Eng. Agrônomo ou Eng. Florestal, potencializando a possibilidade de contaminação dos recursos hídricos, do solo, dos organismos e do homem.
           
Fontes Consultadas
ANDEF - Associação Nacional de Defesa Vegetal. Manual de uso correto e seguro de produtos fitossanitários. São Paulo, 24p. 2001.
ANDREI, E. Compêndio de defensivos agrícolas. Editora Andrei, São Paulo, 8ª edição, 1378p. 2009.
ARAÚJO, D.S.F. de; MONTEIRO, R.T.R.; ABAKERLI, R.B.; SOUZA, L.S. de. Biodegradação de glifosato em dois solos brasileiros. Pesticidas: R.Ecotoxicol. e Meio Ambiente, Curitiba, v. 13, jan./dez. 2003.
AZEVÊDO, C. L. L. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Produção Integrada de Citros – BA. Sistema de Produção, edição 15. [Versão eletrônica]. Dez/2003.
BRASIL. Resolução nº 344, de 27 de julho de 1990. Define as categorias profissionais habilitadas a assumir a Responsabilidade Técnica na prescrição de produtos agrotóxicos, sua aplicação e atividades afins.
MONSANTO. Comportamento do Glifosato no Solo e na Água. Disponível em :http://www.monsanto.com.br/produtos/herbicidas/glifosato/capitulo6/capitulo6.asp acessado em abril de 2012.

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