quarta-feira, 17 de abril de 2013

Corrupção e Pobreza em Alagoas


A corrupção normalmente é analisada como um fenômeno que indica uma relação associada ao poder das elites econômicas e do poder dos políticos. Ela envolve uma relação de interação entre pelo menos duas pessoas ou um conjunto delas, onde numa ponta está o corruptor e na outra o corrompido. Certamente a corrupção é um fenômeno difícil de ser combatido e, especialmente quando ela decorre de causas históricas e estruturais, como é o caso de Alagoas.
Quadro Retirantes - Cândido Portinari, 1944.
Alagoas não é um Estado intrinsecamente corrupto. Não existe nos nossos genes nada que nos predisponha à corrupção, algo herdado. Na sua concepção, nós podemos definir a corrupção como um processo em que um ente público obtém vantagens ou rendimentos na forma de transferências indevidas para seu beneficio próprio, aproveitando-se da sua posição, ou seja, esse sistema se caracteriza pela apropriação do patrimônio público como se ele fosse privado e pela concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio político, inclusive na forma de voto.

 A corrupção está dividida em pública e privada. A corrupção pública, que é a que nos fere e nos lesa com mais voracidade, está dividida em política e burocrática. A corrupção política, como o próprio nome sugere, está relacionada à corrupção dos nossos parlamentares, que são eleitos para trabalhar para o nosso benefício e acabam por se aproveitar do cargo em exercício para obter vantagens pessoais. Já a corrupção burocrática, está relacionada à corrupção dos nossos funcionários públicos, que pode ser no alto, médio ou baixo escalão, ou seja, pode ser tanto um juiz como um policial que aceita suborno em troca de uma multa.

O Banco Mundial considera a corrupção como um dos maiores obstáculos, se não o maior de todos, para o desenvolvimento econômico e social, pois ela distorce a autoridade das leis e enfraquece a base institucional necessária ao crescimento econômico, dilapida o patrimônio público e corrói os recursos que deveriam ser utilizados para atender a quem necessita de fato. Existe uma relação muito perversa entre corrupção e pobreza, pois ela distorce políticas públicas, leva à má alocação dos recursos, fere o setor privado e, principalmente, prejudica os pobres. O que diferencia o caso brasileiro, em especial o de Alagoas, de outros no mundo é que, aqui a corrupção é institucionalizada e parece algo quase que normal, enquanto que em países desenvolvidos, esse tipo de comportamento é inaceitável e passivo de punição severa.

Do ponto de vista social, esse fenômeno provoca degradação no meio em que ela ocorre, além de deturpação das transferências de renda para os mais necessitados, implicando numa atrofia das condições de vida de uma sociedade, que se vê lesada nos seus direitos de uma melhor condição básica para a sua sobrevivência. No caso de Alagoas, o poder público do Estado se tornou ao longo de sua história apenas numa figura representativa, ela serve tão somente para realizar os desejos e anseios de suas elites, que tomou o Estado para si de uma forma que ele se confunde, ou seja, parafraseando o professor Fernando de Lira: O Estado se tornou no guarda chuva protetor de suas elites, fazendo valer as suas vontades, que sem sombra de dúvidas não é o desenvolvimento social e o crescimento intelectual e de renda de uma parte considerável de sua população. Isso seria uma “ameaça” a posição confortável que essa elite sempre ocupou no cenário alagoano. Posição essa de poder, prestígio e intimidação.

Nessas condições, o desenvolvimento intelectual, político, econômico e social do Estado ficaram limitados e sujeitos basicamente a poucas famílias, que se apossaram do Estado, dilapidando o patrimônio público como se ele fosse privado, promovendo assim, concentração de renda, pobreza, miséria e muitas desigualdades sociais. Elegendo vereadores, deputados, prefeitos e governadores, nomeando parentes, amigos e pessoas de confiança para cargos de extremo poder local e federal.

Alagoas é um espaço político, social e econômico amarrado ao subdesenvolvimento crônico devido a certas especificidades no seu processo de formação histórica. Sua identidade foi desenvolvida através de um setor dominante, que é o setor agroindustrial, e todos os demais segmentos da economia dependem do comportamento desse setor, que representa a elite do Estado, e que desenvolveu formas de controle rígido e autoritário, apropriado aos seus interesses econômicos.

O poder característico do nosso Estado privilegiou uns poucos e excluiu a grande parte da população da riqueza gerada. Esse tipo de poder nos faz lembrar os governos absolutistas do tipo monarquias absolutistas, ou seja, para si próprio, pois gera um ambiente econômico e social totalmente dominante sobre a população, que dificulta a acumulação de capital humano e social, como também o acesso aos meios de sobrevivência, gera uma grande desigualdade social, um baixo nível de emprego e um excessivo grau de analfabetismo.

Todos os indicadores sociais negativos do Estado de Alagoas sejam eles: concentração de renda, desigualdades sociais, taxa de analfabetismo, pobreza, violência e outras mais, são frutos de todo esse poder das elites que são responsáveis pela formação social do Estado de Alagoas. Poder esse, baseado na corrupção e na intimidação que salta os olhos e que promove todo tipo de mazelas e traz conseqüências devastadoras ao longo do tempo. Conseqüências que parecem crônicas e difíceis de curar, devido ao grau de complexidade a que se deixou chegar.

Um Estado pobre como Alagoas, para ultrapassar a linha da pobreza, que parece ser crônica, é necessário um esforço conjunto entre Estado e União na adoção de medidas para geração de emprego, de renda no seio da sociedade alagoana, educação, liberdade, segurança e combate a fome. Portanto, o que se percebe é que toda essa corrupção com a qual convivemos numa naturalidade quase que normal, é a conseqüência da nossa formação social e econômica, baseada no setor sucroalcooleiro que compõe a nossa elite quase que absoluta que dominaram e dominam até hoje o aparelho público e privado do Estado, influenciando no modo de pensar e de viver da nossa sociedade.

Em um Estado como Alagoas, corrupção, que é tido como algo normal e cotidiano, um individuo que consegue entrar no poder e não sair rico de lá, não é considerado honesto, mas sim considerado muito incompetente!

Autor: Alonso Barros da Silva Jr.
 Engenheiro Agrônomo- Mestrado em Economia Aplicada – UFAL/FEAC

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