Por: José Thales Pantaleão Ferreira & Elvis Pantaleão Ferreira
A citricultura de Santana do Mundaú – AL
pouco utilizava herbicidas nos tratos culturais, contudo com a crescente valorização
da laranja lima, abertura de novos mercados, escassez de mão de obra, associada
também a elevação dos custos para os tratos culturais, vários produtores tem
optado por realizar o controle químico das ervas daninhas.
No entanto, a venda
de herbicidas ou qualquer outro agroquímico, só pode ser feita ao agricultor
com o uso de receituário emitido por Eng. Agrônomo ou Florestal, devidamente
credenciado no CREA. No receituário estará escrito todas as recomendações de
uso, como: quantidade a ser aplicada, modo de aplicação, horário adequado à
aplicação, equipamento a ser utilizado, equipamento de proteção ao aplicador,
descarte correto da embalagem, intervalo de segurança para colheita, período
entre aplicações, entre outros.
Cabe ressaltar que os
técnicos agrícolas e tecnólogos da área da agropecuária e florestas podem
assumir a responsabilidade técnica de aplicação, desde que o façam sob a
supervisão de um engenheiro agrônomo ou florestal (BRASIL, 1990).
Todavia,
a falta de fiscalização em Santana do Mundaú e região tem levado à venda ilegal
de agroquímicos, que muitas vezes são utilizados de forma irregular afetando a
saúde do trabalhador e comprometendo o meio ambiente, potencializando a
possibilidade de contaminação dos recursos hídricos, dos alimentos e dos
organismos.
Para reduzir ao
máximo a possibilidade de contaminação do aplicador com herbicida, este deve
utilizar equipamento de proteção individual (EPI), contendo: óculos, botas,
luvas, boné árabe, máscara, avental costal, jaleco e calça impermeabilizada. Contudo,
infelizmente os aplicadores não vêm utilizando esta proteção em Santana do
Mundaú – AL, colocando em risco a vida e o bem estar de vários trabalhadores.
Os herbicidas quando aplicados sem o
uso de equipamentos de proteção individual (EPI) podem ser absorvidos pelo
corpo humano pelas vias (oral, dérmica, respiratória, ocular e anal através do
escorrimento da calda pelas costas do aplicador) e uma vez no organismo humano,
poderão causar quadros de intoxicação podendo ser caracterizados por náusea,
vômito, danos ao sistema imunológico e nervoso, dificuldade respiratória, convulsões,
coma e morte (ANDEF, 2001).
Quando há exposição a agrotóxicos
combinados (misturados) situação comum no trabalho agrícola, os efeitos e danos
a saúde humana podem ser potencializados podendo causar alterações
imunológicas, genéticas, mal formações congênitas, câncer, efeitos deletérios
sobre os sistemas nervoso, tratogastrintestinal, hepático, reprodutivo, além de
alterações comportamentais, entre outros.
Em Santana do Mundaú
- AL temos vários pomares de laranja lima ao redor da cidade, devendo a
citricultor e o técnico responsável orientar que aplicação não seja realizada
próximo as residências, pois o vento pode acabar levando o produto químico para as
residências, podendo contaminar as pessoas e alimentos, o que pode ser
caracterizado uma conduta culposa, (sem intenção de produzir o resultado),
porém, previsível, que podia ser evitado.
Os principais
herbicidas utilizados no controle das ervas daninhas em Santana do Mundaú e
região são Roundup (GLIFOSATO) e Tordon (PICLORAN). O Roundup é uma herbicida
não seletivo de ação sistêmica, de classe toxicológica III (mediamente tóxico),
periculosidade ao meio ambiente classe III (perigoso ao meio ambiente) e
intervalo de segurança de 30 dias para o cultivo de citrus (Andrei, 2009).
Segundo Andrei
(2009), o tordon (PICLORAN) é um herbicida sistêmico de ação seletiva, com
classe toxicológica I (altamente tóxico), sendo considerado tóxico para fauna
silvestre, seu intervalo de segurança é de 90 dias para a cultura do arroz. O
tordon é um herbicida seletivo atuando somente nas plantas de folha larga
(dicotiledôneas), sendo muito utilizado nas pastagens para controle da erva
daninha malicia, entre outras.
AZEVEDO (2003)
destaca que só é permitido utilizar herbicidas, registrados para citros, ou
conforme legislação vigente; dando preferência aos pós-emergentes aplicados, no
máximo, duas vezes ao ano na faixa de projeção da copa das plantas, em função
do período crítico de interferência das plantas daninhas determinado para o
ambiente trabalhado, adverte ainda que, os agrotóxicos podem ser persistentes,
móveis e tóxicos no solo, na água e no ar, tendendo a acumular-se no solo e na
biota.
Os herbicidas ao
serem aplicados no controle das ervas daninhas podem alcançar o lençol freático
e contaminar a água, podendo intoxicar os organismos. Em Santana do Mundaú a
citricultura está implantada em sua maioria em solos classificados como
Argissolos, esta classe de solo possui uma acumulação de argila em
subsuperfície, especificamente no horizonte Bt, este acúmulo reduz a
infiltração de água e desfavorece a passagem do herbicida para o lençol
freático, entretanto o uso indiscriminado, excedendo a quantidade recomendada
pelo Eng. Agrônomo ou Eng. Florestal aumenta o potencial de contaminação dos
recursos hídricos. Alguns trabalhos mostram que o tempo de degradação do
Roundup (GLIFOSATO) é menor nos Argissolos em comparação com os Latossolos
(Araújo et al., 2003).
A
condição topográfica de Santana do Mundaú, conforme ilustrada na figura 1 a
seguir potencializa o perigo de contaminação dos recursos hídricos, neste caso,
principalmente dos riachos e rios, pois caso ocorra uma chuva forte próximo ao
período que foi aplicado o herbicida, este poderá ser transportado em grande
quantidade para os riacho e rios, contaminando peixes e todos os organismos que
estiverem utilizando este recurso.
Figura
2 1. Mapa de altitude de
Santana do Mundaú, gerado com dados SRTM com auxílio do Software ArcGis. Fonte:
José Thales Pantaleão Ferreira (2012).
Para
reduzir este perigo de contaminação, as empresas têm buscado fabricar herbicidas
com tempo de meia vida curto (tempo médio necessário para que metade da
quantidade aplicada do produto seja degradada), a exemplo deste, temos o
próprio Roundup que possui tempo de meia vida de 32 dias (Monsanto, 2012). A
molécula química deste herbicida pode ser utilizada nas vias metabólicas dos microrganismos,
promovendo sua degradação.
Diante
do exposto, verifica-se que a citricultura em Santana do Mundaú – AL encontra-se
com crescente utilização de herbicidas no controle químico das ervas daninhas,
contudo observa-se que a utilização, em muitos casos não vem seguindo orientações
técnicas de Eng. Agrônomo ou Eng. Florestal, potencializando a possibilidade de
contaminação dos recursos hídricos, do solo, dos organismos e do homem.
Fontes
Consultadas
ANDEF
- Associação Nacional de Defesa Vegetal. Manual
de uso correto e seguro de produtos fitossanitários. São Paulo, 24p. 2001.
ANDREI,
E. Compêndio de defensivos agrícolas.
Editora Andrei, São Paulo, 8ª edição, 1378p. 2009.
ARAÚJO,
D.S.F. de; MONTEIRO, R.T.R.; ABAKERLI, R.B.; SOUZA, L.S. de. Biodegradação de glifosato em dois solos
brasileiros. Pesticidas: R.Ecotoxicol. e Meio Ambiente, Curitiba, v. 13,
jan./dez. 2003.
AZEVÊDO,
C. L. L. Embrapa Mandioca e Fruticultura. Produção
Integrada de Citros – BA. Sistema de Produção, edição 15. [Versão
eletrônica]. Dez/2003.
BRASIL.
Resolução nº 344, de 27 de julho de 1990. Define as categorias profissionais
habilitadas a assumir a Responsabilidade Técnica na prescrição de produtos
agrotóxicos, sua aplicação e atividades afins.
MONSANTO. Comportamento do Glifosato no Solo e na Água.
Disponível em : http://www.monsanto.com.br/produtos/herbicidas/glifosato/capitulo6/capitulo6.asp
acessado em abril de 2012.
Parabenizo o Thales e o Elvis , por matéria tão importante.Continuem assim, estão com certeza, prestando um elevado serviço à Santana do Mundaú
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