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Prof. Dr. William Natale*
Análise química do solo
A fertilidade do solo pode ser definida como a capacidade que o solo
apresenta de fornecer às plantas nele cultivadas, os elementos químicos e
as substâncias capazes de proporcionar desenvolvimento vegetal e
produzir colheitas compensadoras, quando os fatores do ambiente são
favoráveis.
A fertilidade do solo está relacionada à nutrição mineral das plantas
no que diz respeito ao poder de fornecimento de elementos essenciais às
mesmas, em quantidades suficientes. É importante, porém, reconhecer a
diferença entre o fornecimento de nutrientes e a absorção dos mesmos
pelo vegetal. O primeiro é um fator ligado ao solo, que pode ser
definido na ausência da planta, enquanto a absorção é o resultado da
ação da planta sobre o poder que o solo tem de fornecer-lhe nutrientes. É
óbvio, também, que a absorção é influenciada por muitos fatores
biológicos, climáticos, físicos e químicos. Assim, ao se definir a
fertilidade do solo surgem muitas dificuldades e, avaliá-la, é ainda
mais complexo.
O objetivo básico da análise química é determinar a capacidade que o
solo possui de fornecer nutrientes às plantas, utilizando-se "medidas"
químicas que permitam conhecer o nível de nutrientes disponíveis, o que,
através de adequada interpretação, diagnostica deficiências/toxidez,
permitindo formular práticas de manejo para corrigi-las ou manter o
mesmo nível de fertilidade.
O diagnóstico químico da fertilidade do solo, para ser adequado e confiável, deve apoiar-se em dois aspectos essenciais:
a) O uso de soluções extratoras da fração disponível dos nutrientes, ou
seja, o método químico de extração de um elemento deve obter, a fração
que está verdadeiramente disponível à planta, no curso do seu ciclo de
vida;
b) A utilização de níveis críticos confiáveis: a possibilidade de
interpretar de forma adequada os valores obtidos em uma análise química
supõe classificar o nível de disponibilidade do elemento como alto,
médio ou baixo, por exemplo, o que implica no uso de valores críticos
para cada nutriente e para cada solução extratora.
Estas duas premissas do diagnóstico são obtidas através de extensos
programas de pesquisa, em diferentes tipos de solos e cultivos, os quais
constituem o que é conhecido como calibração da análise.
Algumas vantagens da análise química de solo são:
- Execução fácil e rápida;
- Permite analisar um grande número de amostras num curto espaço de tempo;
- Independe das condições de ambiente, principalmente luz e temperatura;
- Permite avaliar a fertilidade do solo antes do plantio ou a qualquer momento que se desejar;
- Baixo custo;
- Permite reprodutibilidade.
Com relação à amostragem de solo para a realização da análise, é
preciso seguir alguns passos simples, mas, imprescindíveis, para que os
resultados sejam representativos da área a ser avaliada. Desse modo, a
amostragem bem feita é fundamental para ter sucesso. Na implantação dos
pomares de goiabeira o procedimento é o mesmo usado para as culturas
anuais, ou seja, amostrar toda área de forma representativa. Nos pomares
em produção é importante amostrar a região da projeção da copa das
plantas, que é a área que normalmente recebe os fertilizantes. Devem-se
coletar vinte pontos em cada talhão homogêneo (mesma cultivar, idade,
produtividade, tipo de solo, manejo e adubação). A amostra deve ser
encaminhada ao laboratório, onde será submetida ao processo analítico
(extração) que permite a determinação das concentrações de nutrientes e
também da acidez.
Com o resultado da análise de solo nas mãos, o passo seguinte é saber
quanto de calcário e de fertilizantes aplicar no pomar. A adubação, na
verdade, procura corrigir a diferença que existe entre o que a goiabeira
exige e o que o solo pode fornecer, estando incluídas nesse cálculo as
perdas normais que ocorrem durante a lavoura devido à água da chuva,
erosão e, etc. Assim, devem-se comparar os resultados com as tabelas de
adubação (baseadas em pesquisa), que indicarão as quantidades de
nutrientes que deverão ser aplicadas em cada caso.
A correção da acidez, através da prática da calagem, é fundamental,
pois, a maioria dos solos brasileiros tem reação ácida, o que prejudica o
desenvolvimento das plantas. Baseado na análise de solo, pode-se
calcular a quantidade de corretivo a aplicar. A saturação por bases
indicada para a goiabeira é 60%, considerando uma concnetração de
magnésio mímima de 9 mmolc dm-3. Antes da
implantação do pomar, a dose de calcário deve ser aplicada em área total
e incorporada na camada 0-30 cm. Com relação à adubação, apenas para
exemplificar, faremos o cálculo para um pomar de goiabeiras adulto, cuja
análise de solo revelou concentrações de fósforo e potássio no solo de 5
mg dm-3 e 1,6 mmolc dm-3, respectivamente. Supondo que a produtividade da área está próxima de 50 t ha-1 e, que o teor foliar de nitrogênio é de 24 g kg-1, arecomendação
seria aplicar 4 kg por planta da fórmula 20-5-10. Como cada pomar tem
uma exigência diferente em termos de nutrientes, recomenda-se consultar o
III Simpósio Brasileiro da Cultura da Goiaba, realizado em Jaboticabal em 2009, para maires esclarecimentos.
Diagnose foliar
Conforme foram sendo conhecidas as funções dos órgãos das plantas, bem
como a importância dos diferentes nutrientes no metabolismo vegetal,
criou-se uma base científica para a análise de tecidos. A folha, por
apresentar normalmente a atividade fisiológica mais intensa da planta, é
utilizada para análise. Ademais, a elaboração de substâncias para o
crescimento e frutificação dos cultivos reside essencialmente nas folhas
e, por isso, seu conteúdo deverá refletir, melhor que os outros órgãos,
o estado nutricional da planta.
Avaliar o estado nutricional consiste simplesmente em fazer uma
comparação entre um padrão e uma amostra. O padrão é uma planta ou
conjunto de plantas "normais" do ponto de vista da nutrição.
Considera-se normal uma planta que, tendo em seus tecidos todos os
elementos em quantidades e proporções adequadas, tem alta produtividade.
A diagnose foliar é um método de avaliação do estado nutricional das
culturas em que se analisam determinadas folhas, em períodos definidos
da vida da planta. De outro ponto de vista, a diagnose foliar pode ser
considerada como uma avaliação da fertilidade do solo, usando-se a
planta como solução extratora.
O método baseia-se na existência de uma relação entre os teores de
nutrientes disponíveis no solo, em certas folhas bem definidas, e a
grandeza da produção.
A diagnose foliar presta-se, principalmente, para:
- avaliação do estado nutricional;
- identificação de deficiências que provocam sintomas semelhantes, dificultando ou impossibilitando a diagnose visual;
- avaliação da necessidade de realizar adubação.
Ao empregar-se o método, é importante lembrar que a composição das
folhas varia com a cultura, a idade, as práticas agrícolas, a posição no
ramo, a sanidade quanto a pragas e moléstias, além de efeitos
ambientais. Daí, a necessidade de folhas "bem definidas". Conforme
mencionado anteriormente, para pomares de frutas, a análise foliar é uma
ferramenta importante. No exemplo acima, da goiabeira, fizemos a
suposição de que o teor de nitrogênio nas folhas era de 24 g kg-1,
sendo, pois, fundamental para a recomendação de adubação. Entretanto,
para diagnosticar esse teor de nutriente (e dos outros também) é
necessário realizar a análise foliar e, a amostragem das folhas é a
etapa mais importante. Para cada cultura existe uma forma correta de
amostragem para realizar a análise. No caso da goiabeira, deve-se
coletar o terceiro par de folhas, a partir da extremidade do ramo, em
número de 25 pares por talhão homogêneo, à época de pleno florescimento
da cultura. Essas folhas devem ser encaminhadas imediatamente ao
laboratório, onde serão lavadas, secas, moídas e submetidas à digestão,
que consiste em liberar os nutrientes das folhas para sua determinação
em equipamento específico. Os resultados, a exemplo da análise de solo,
são utilizados conjuntamente para realizar a recomendação de
fertilizantes.
Em resumo, pode-se dizer que, quando utilizadas de modo correto, a
análise de solo e de folhas permite recomendações de calagem e adubação
que melhoram a produtividade, a qualidade dos produtos colhidos e
garantem excelente retorno econômico ao agricultor.
* Departamento de Solos e Adubos. FCAV/Unesp - campus Jaboticabal. E-mail: natale@fcav.unesp.br
Fonte: TodaFruta |
Parabéns, Thales... mais uma vez pelas inovadoras matérias.
ResponderExcluirExcelente, matéria.
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