segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Evolução Recente da Agroindústria Canavieira

Por: José Francisco Oliveira de Amorim, Administrador e Mestre em Economia Aplicada pela UFAL.

O setor canavieiro consiste na atividade industrial mais antiga do Brasil, tendo acompanhado o desenvolvimento econômico e social da nação. A importância deste setor é extremamente relevante para a indústria brasileira, devido ao nível de competitividade e modernidade.

            Diversos programas foram desenvolvidos com a finalidade de contribuir para a evolução do setor canavieiro, dando impulso ao alargamento. Com a eleição de um novo governante em 2002, foi mantida a estabilidade econômica e política do país, os produtores do setor canavieiro passaram a desenvolver competências técnicas com o objetivo de aumentar a eficiência técnica de sua produção, buscando a reformulação da estrutura organizacional das usinas com a finalidade de manter maior coordenação setorial.

Destaca-se ainda que o setor canavieiro passa por um novo momento, com o “renascimento do setor” a partir do lançamento do motor flex fuel com sistema desenvolvido pela Bosch. Essa tecnologia se popularizou rapidamente e aumentou o consumo de etanol, estudos indicam que se o preço do etanol for abaixo de 70% do preço da gasolina é mais vantajoso abastecer o veículo com etanol. O poder de compra do consumidor foi elevado e a interrupção do combustível verde é praticamente nula, durante esse período passa a existir uma mudança no mix de produção de etanol anidro para etanol hidratado. Em 2005 as vendas de veículos flex fuel passam a ser 60% das vendas de veículos 0 km, em 2007 é registrado que 85% das vendas de 0 km são de veículos que possuem a tecnologia flex fuel.


A produção de açúcar não ficou para trás, esta apresentou uma forte elevação, pois passou de uma produção inferior a10 milhões de toneladas (1990), para 30 milhões de toneladas (2007/2008). Neste período ocorreu o maior aumento de consumo dos últimos dez anos, impulsionados por políticas do governo federal de redistribuição de renda, como Fome Zero e o Bolsa Família. Isto é verificado a partir do consumo, pois as famílias de baixa renda passaram a consumir mais produtos industrializados e a indústria de alimentos e bebidas corresponde ao principal consumidor de açúcar do Brasil.

O Brasil ainda se mantém como o primeiro exportador de açúcar mundial, pois seus concorrentes enfrentam problemas ligados à água, terra e estrutura agrária. O salto de produção tanto de açúcar como de álcool, foram motivados com a implementação do Proálcool, o que possibilitou intenso desenvolvimento tecnológico para produção, logística e uso final. A conexão entre os setores público e privado arquitetou a nova configuração do setor, com isso, o Brasil alcançou alguns patamares: maior produtor de cana de açúcar, maior produtor de etanol com a expansão da indústria para vários estados do Brasil, com destaque para Nordeste e Sudeste. Além disso, o país retomou a produção de veículo movidos a álcool, entretanto, são veículos híbridos denominados carros flex.

Estas ações favoreceram o avanço tecnológico do setor, levando ao desenvolvimento de dois novos setores além do tradicional: o energético – com o surgimento de empresas que trabalham com a geração de biomassa a partir do bagaço e palha da cana de açúcar e o setor sucroquímico.

Esta configuração proporcionou a formação de novas estruturas de governança, com estruturas de capital puramente nacional e/ ou com participação de capital estrangeiro. Os grupos estabelecidos procuraram se organizar e adicionar novas tecnologias ao mercado, sobrepondo-se a anterior utilizada pelo Estado.
            O setor experimenta ainda um crescimento, contudo, ainda apresenta valores abaixo da demanda potencial interna e externa por açúcar e álcool. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor proporciona três fatores: aumento do consumo interno, devido ao sucesso dos veículos flex, demanda mundial por álcool, devido à qualidade ambiental por ser obtido por meio da biomassa e por último, exportação crescente, dado a competitividade brasileira e redução de subsídios à exportação concedidos por países da União Europeia (UE), em concordância, existe uma diferença na produção de açúcar da cana da produção de açúcar de beterraba, isto favorece o aumento da competitividade do açúcar brasileiro no mercado internacional.

Entretanto existem alguns fatores que devem ser considerados, o setor ainda sofre com as mudanças institucionais, o setor dividiu-se em regiões geográficas, historicamente a auto-regulação sempre foi um problema. Mesmo com a redução dos preços relativos e extinção das cotas de produção – promovidas pelo Proálcool – e a forte alteração da dinâmica tecnológica, a abertura promovida com a desregulamentação favoreceu a formação de cisões, apesar disso, ainda existem empresas independentes que tentam manter-se no mercado, outro ponto que também é destaque de problemas é a conversa com trabalhadores e grupos sociais que se torna mais difícil a cada dia.

A desregulamentação não só impactou como também deixou o setor mais vulnerável a ações externas, a saída passou a ser criação de novas estruturas produtivas ou fusões, além da migração por parte de alguns grupos econômicos do nordeste canavieiro para o centro-sul concentrado.

A concentração da atividade nessa região está promovendo o crescimento do setor, pois nessa região existem terras que ainda não foram cultivadas e apresenta-se de forma plana, contribuindo com o melhor aproveitamento do plantio e colheita, dados do portal unicadata comprovam que o crescimento da produção de açúcar e álcool brasileira é sustentado pela produção da região Centro-Sul.

A configuração de oligopólio competitivo (presença de alguns grupos econômicos e grande quantidade de empresas) aliada à concentração produtiva em uma região fornece subsídios necessários para o desenvolvimento de outras atividades que podem surgir devido à junção de vários agentes e de capital externo, contribuindo com novas combinações, como destaque, identifica-se a atividade de cogeração de energia elétrica realizada por algumas usinas.

Estima-se que em 2030, a produção de cana-de-açúcar possa chegar a 1,140 bilhões e a estimativa da produção de biomassa da cana para geração de energia chegue a 313,5 milhões, ressaltando a importância dessa atividade, a cogeração de energia a partir do bagaço e da palha deve deixar de ser um subproduto e passar a ser uma terceira fonte de negócios, diante de um amadurecimento do mercado e por pressões ambientais.

Dessa forma, a atividade de cogeração surge como uma saída para os problemas de falta de energia e apagões, proporcionando ainda uma matriz energética limpa, tornando o setor canavieiro atraente a investimentos.




2 comentários:

  1. TERESINHA CARDOSO FERREIRA2 de setembro de 2013 às 08:40

    TENHO APRENDIDO MUITO COM SUAS PUBLICAÇÕES.PARABÉNS, POR TAO BELISSIMOS ARTIGOS, CARO DOUTORANDO, THALES PANTALEAO FERREIRA

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  2. Excelente artigo do Administrador e Professor da UFAL José Francisco Amorim. Parabéns pela bela explanação meu caro!!!

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